Caio Vinicus
"...Para me refazer e te refazer volto
a meu estado de jardim e sombra, fresca realidade,
mal existo e se existo é com delicado cuidado.

Em redor da sombra faz calor de suor abundante.
Estou viva. Mas sinto que ainda não alcancei os meus limites,
fronteiras com o quê? sem fronteiras,
a aventura da liberdade perigosa. Mas arrisco, vivo arriscando.

Estou cheia de acácias balançando amarelas, e eu que mal e mal comecei a minha jornada, começo-a com um senso de tragédia, adivinhando para que oceano perdido vão os meus passos de vida. E doidamente me apodero dos desvãos de mim, meus desvarios me sufocam de tanta beleza. Eu sou antes, eu sou quase, eu sou nunca. E tudo isso ganhei ao deixar de te amar..."



(Clarice Lispector - Água Viva )
Caio Vinicus
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.

Como é por dentro outra pessoa
Quem é que o saberá sonhar?
A alma de outrem é outro universo
Com que não há comunicação possível,
Com que não há verdadeiro entendimento.

Nada sabemos da alma
Senão da nossa;
As dos outros são olhares,
São gestos, são palavras,
Com a suposição de qualquer semelhança
No fundo.


Fernando Pessoa, 1934
Caio Vinicus
Já não mais são dois, tornaram-se um. Desde o primeiro momento em que se entrelaçaram entre caricias e palavras de um arrebatador sentimento, seriam eles nobres amantes ou estariam sofrendo do intermitente mal do amor, já não ouvem as vozes do mundo e sentem-se ameaçados pelas sombras do passado, errados não estariam se não fossem seres de carne e osso e possuidores de um coração, visados por muitos permitem serem apanhados e momentos de tão súbita clareza que chegariam a não serem considerados como tão amantes.
Abriram mão dos prazeres da vida a um, e tornaram-se seguidores das balelas da vida a dois, contudo, aproveitando os momentos mais interessantes dessa nova vida. Símbolos de beleza e sentimento estariam se sacrificando e esquecendo-se de suas próprias vidas em prol da vida do outro? Respondo-lhes: Assim são os que amam.
Deixamos de lado o marasmo das noites de sexta em que ficamos com amigos bêbados até o clarear de um novo dia, quartas à noite quando somos dessecados em frente à TV, quando não temos coisas a fazer e nem por isso nos sentimos felizes por termos todo esse tempo livre, preferimos essa dedicação subserviente a uma única pessoa que é capaz de nos alegrar com aquela ligação ao fim da noite ou com simples bilhete deixado pela manhã antes de sair, tal ser é capaz de nos transformar, às vezes para quem nos ver somos seres inanimados, movidos por mãos que nos controlam, e que em nós, tal transformação passou do coração direto para nosso entendimento, queremos ser mais para o agrado, tentamos novas formas, buscamos a melhoria daquilo que éramos antes, um novo amor é sempre como uma nova descoberta, sua mente e seu corpo se abrem para novos sentidos e horizontes, deixamos de lado o que tanto nos pesava em busca de sermos aquilo que tentamos ser por muito tempo e não tínhamos o estimulo de vida que precisávamos, é nesse momento que os seres humanos mostram sua maior beleza, o dom do entendimento entre homem e mulher, num simples gesto traduzido num único verbo: AMAR.
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